Lavras (MG), 02/12/2019 – O Brasil abriga a terceira maior população de animais de estimação do mundo, com quase 140 milhões de pets segundo dados do IBGE. Mais de 54 milhões desses animais são cães e cerca de 20 milhões são considerados abandonados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. São números que impressionam, mas ainda não produzem uma conscientização ampla no país sobre o impacto ambiental dessa realidade. Uma exceção é o Parque Francisco de Assis (PFA), em Lavras, no sul de Minas Gerais, onde um projeto inovador mostra o caminho desde 2009.
Ligado à Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) e mantido exclusivamente por doações, o canil abriga mais de 400 cachorros abandonados e presta um serviço essencial para a cidade, que não tem canil municipal. Para enfrentar o grande volume diário de dejetos desses animais, o PFA desenvolveu em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) uma estação de tratamento de efluentes (ETE), sistema inusitado de limpeza e reuso da água utilizada na lavagem dos recintos onde os cães são mantidos.
“Não havia registro de técnicas para tratamento de dejetos de cães, quando o sistema foi implantado. O Parque produz mais de 7.000 litros de dejetos por dia e precisava de uma solução. Eu sou voluntária no PFA e me dediquei a esse trabalho,” diz a especialista em saneamento básico Camila Silva Franco, professora adjunta do Departamento de Engenharia da UFLA. Para ela, simplesmente “não faz sentido cuidar dos animais sem cuidar do meio ambiente”.
Proposta inédita virou didática
Localizado na zona rural de Lavras em uma área de 7.000 m², o PFA cuida de animais tirados das ruas por abandono, maus tratos, doenças, ferimentos ou porque seus proprietários não têm condições de garantir cuidados. O local possui duas enfermarias para cães portadores de doenças infectocontagiosas, uma enfermaria para cães em pós-operatório e sala de cirurgia entre outras estruturas. O PFA também trabalha para viabilizar adoções e a gestão de todas as atividades e instalações, feita por voluntários, exige uma verdadeira linha de produção para garantir a higiene.
O sistema de limpeza da água utiliza uma sequência de filtros e 10 tanques de fibra de vidro, cada um com capacidade para 2000 litros. Seis operam como decantadores e o restante como sistemas alagados construídos (SACs). Toda a água descartada, proveniente da lavagem das baias após raspagem das fezes, das descargas de três banheiros e da lavanderia em uso diário, é captada e limpa de forma progressiva.
As etapas preliminar e primária removem resíduos sólidos, sedimentáveis e suspensos, a secundária remove matéria orgânica e por fim, a etapa terciária retira poluentes específicos não biodegradáveis e nutrientes.
Água de reuso e fertilizante grátis
Após o tratamento, os efluentes são lançados no Ribeirão Santa Cruz com 90% da matéria removidos. Parte da água é retida e utilizada na limpeza e manutenção das instalações. Os resíduos sólidos também são tratados, misturados a serragem cedida por madeireiras da cidade em um novo processo, este, de compostagem. Depois de um mês em local externo para maturação, o composto é ensacado e doado para a comunidade para uso como fertilizante.
O projeto virou referência, curso de extensão, projeto de mestrado e doutorado na UFLA, cumprindo o que a professora entende como função de uma universidade pública. “A iniciativa evoluiu em apoio ao ensino superior e hoje, conseguimos ensinar o que aprendemos”, explica Franco. O ambiente funciona ainda como laboratório para o Curso de Veterinária da UFLA, com a realização de exames de ultrassom, cirurgias e cerca de 70 castrações por mês.
Exemplo a ser seguido
O Parque Francisco de Assis é um alerta para o que poderia acontecer, levando-se em conta dados de um estudo divulgado em agosto deste ano pelo Instituto Pet Brasil, mostrando que 370 organizações não governamentais (ONGs) e grupos de proteção animal espalhados pelo país hoje abrigam 170 mil animais de estimação abandonados, 96% deles cachorros. O número de animais abrigados por essas instituições é uma parcela pequena do total de animais abandonados no Brasil, mas é o suficiente para um exercício bastante objetivo.
“Vamos imaginar o impacto que ocorreria se sistemas como o do Parque Francisco de Assis fossem adotados nessas 370 instituições que abrigam cachorros em todas as regiões do Brasil. Teríamos ganhos evidentes a um custo benefício extremamente baixo pelo retorno que geraria”, pondera o gestor geral da Fraternidade Internacional FFHI, Frei Luciano.
O inverso, que é o que ocorre hoje na grande maioria dessas instalações, é o descarte de dejetos sem qualquer tratamento nos sistemas de esgoto. “O que temos é um volume significativo de impurezas como microorganismos causadores de doenças, contaminando ainda mais os cursos d’água e o lençol freático, algo que há 10 anos o Parque Francisco de Assis consegue evitar,” concluiu.
A população de animais abandonados em áreas urbanas sem cuidados veterinarios adequados é hospedeira de mais de 300 tipos de zoonoses, como a raiva, leptospirose e leishmaniose. É alta a incidência de ataques e mordidas por animais nessa situação, além do risco para o trânsito devido a atropelamentos.
NA WEB: Parque Francisco de Assis
http://www.parquefranciscodeassis.com.br
UFLA – Universidade Federal de Lavras
www.ufla.br
Fraternidade – Federação Humanitária Internacional:
https://www.fraterinternacional.org
Doações: https://www.fraterinternacional.org/doacoes
SOBRE A FRATERNIDADE – FEDERAÇÃO HUMANITÁRIA INTERNACIONAL:
Fundada em 1987 e sediada em Carmo da Cachoeira (MG), a Fraternidade Internacional FFHI é uma rede global de caráter filosófico, cultural, humanitário, ambiental e beneficente. Ao longo de 32 anos de existência, mais de 60 mil voluntários já aderiram aos esforços da Fraternidade Internacional FFHI pela propagação da paz. A entidade congrega 22 associações civis, nacionais e internacionais, com grupos coligados que atuam em 18 países. Entre suas principais atividades estão missões humanitárias em situações críticas em diversas regiões do mundo, já realizadas em países como Uruguai, Etiópia, Turquia, Quênia, Congo e Nepal, além de missões no sertão brasileiro e em Mariana e Brumadinho, após o rompimento de barragens com rejeitos de mineração. As principais missões em andamento ocorrem em Roraima desde 2016, e na Colômbia desde setembro de 2018, ambas em apoio a centenas de refugiados que chegam diariamente da Venezuela. As missões são realizadas pela FMHI – Missões Humanitárias Internacionais, divisão da Fraternidade Internacional FFHI. De ação independente e neutra, a Fraternidade Internacional FFHI atua sem vínculos políticos ou econômicos e é não sectária, acolhendo todos os credos, culturas e religiões. Todas as atividades são financiadas por doações.
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