Depois de Roraima, Bogotá e Cúcuta, na Colômbia, missionários da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) estão assumindo uma quarta frente humanitária de trabalho junto a refugiados venezuelanos, agora em Manaus. Com essa iniciativa, a FFHI amplia seu envolvimento com a Operação Acolhida, resposta humanitária integrada pelo governo do Brasil, a ONU e entidades da sociedade civil.
Melhores condições para atender refugiados, que continuam chegando ao Brasil às centenas diariamente, levaram a Operação Acolhida a estender o trabalho para além de Roraima. Maior cidade do Norte do país, Manaus já abriga cerca de 3.000 venezuelanos, o equivalente a 1,7% da população local de 2,15 milhões, segundo o Exército brasileiro. As atividades de estruturação e adequação da missão na Capital amazonense já estão em curso e devem ser concluídas em meados de outubro.
ENVOLVIMENTO DA FFHI
A FFHI vem realizando missões humanitárias desde 1987 no Brasil e em várias partes do mundo. Voluntários da instituição já marcaram presença em verdadeiras catástrofes sociais, naturais e ambientais, fugas de conflitos e perseguições de cunho étnico, no Brasil e em países como Uruguai, Chile, Etiópia, Ruanda, Nepal, Turquia, Egito e Argentina.
CENÁRIO EM MANAUS
O processo de interiorização consiste no acolhimento definitivo do refugiado, uma iniciativa do governo brasileiro que conta com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e a participação da FFHI. Dadas as condições limitadas de atendimento em Roraima, esse processo vinha ocorrendo organicamente em Manaus, com muitos refugiados que se deslocaram por iniciativa própria em busca de um destino fixo. Esse deslocamento causou a necessidade de uma nova frente da Operação Acolhida.
“Em meados de agosto deste ano, o Exército e o Comitê Federal confirmaram oficialmente que, além de Roraima, Manaus passaria a fazer parte da Operação Acolhida”, relata José Egas, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Brasil. Ele explica que o grande número de pessoas, indígenas e não indígenas, vivendo em situação precária, chamou a atenção do governo brasileiro e da ONU.
“O governo brasileiro decidiu, então, ampliar o processo de interiorização e assinou vários acordos com empresas aéreas, conseguindo vagas em voos para que os refugiados sigam viagem para cidades que possam acolhê-los. É uma ação conjunta e articulada entre sociedade civil, órgãos governamentais e empresários do Brasil inteiro”, segundo Egas.
Em Manaus, um alojamento para refugiados considerados ‘em trânsito’ está sendo organizado para servir de base para venezuelanos em fase final de interiorização. A atuação da FFHI inclui a mediação junto aos governos estadual e municipal na busca por soluções para as necessidades humanitárias locais de maior urgência.
Segundo Frei Luciano, gestor geral da FFHI, a chegada da ONG a Manaus tem a finalidade de executar e organizar a fase denominada de ‘interiorização’, atuando junto aos venezuelanos em trânsito que já passaram por etapas de regularização de documentos, receberam vacinas e em alguns casos, capacitação. “Um dos projetos da FFHI é criar condições para que os refugiados aprendam o português antes de partirem para outros estados do Brasil”, explica.
FFHI EM MANAUS
O trabalho da FFHI nos alojamentos de Manaus não difere daquele realizado desde 2016 em cinco dos 12 abrigos de Roraima. “Organizar os ambientes que foram designados para acolher os refugiados, propiciar segurança, higiene e o mínimo de conforto humano começa com um treinamento interno da equipe“, explica Clara, missionária e coordenadora de campo da FFHI.
“É preciso treinar a nova equipe, composta por 11 pessoas, para que todos aprendam a atuar adequadamente no contexto complexo que vão enfrentar. O treinamento tem uma parte teórica, do porquê desta situação, de onde vêm essas pessoas, e depois, orientações práticas, como preenchimento de formulários, apresentação de documentos e principalmente, qual é a postura adequada que um contratado ou voluntário deve seguir diante de pessoas que vêm de uma saga que os submeteu a um deslocamento forçado e a muito sofrimento“, detalha a coordenadora.
A atuação dos missionários se propõe a auxiliar na reestruturação e retomada de uma vida digna. Com a crise migratória global em franca expansão, o ‘know-how’ acumulado da FFHI, construído na prática, já é reconhecido e demandado por instituições multinacionais como o próprio ACNUR.
Obras em local que abrigará o novo alojamento (HUB)
“MÃO AMIGA E BRAÇO FORTE“
As Forças Armadas têm agido com sucesso no gerenciamento da crise humanitária envolvendo os venezuelanos no norte do país. Segundo o Tenente Coronel Castro Freitas, porta-voz da Operação Acolhida, a chegada da missão a Manaus também tem a proposta de ordenar os espaços urbanos, em benefício dos refugiados e dos moradores locais.
“Até há pouco mais de um mês havia refugiados ocupando as ruas no entorno da rodoviária de Manaus, já que a maioria chega de ônibus à cidade. Hoje, o albergue preparado para recebê-los está totalmente organizado com uma área para pernoite, uma área de banheiros, lavanderia e uma área para refeições“, explica o militar.
DADOS SOBRE A OPERAÇÃO ACOLHIDA
- Trabalhos de triagem, identificação e imunização dos venezuelanos e construção, recuperação e ampliação de abrigos.
- Apoio logístico em transporte, alimentação e saúde.
- Suporte para o processo de interiorização do imigrante
- 24 Estados já receberam refugiados
- Cerca de 20 mil venezuelanos já foram interiorizados pela Operação Acolhida
- Os estados que mais receberam refugiados até agora são Amazonas (2.860), São Paulo (1.488) e Rio Grande do Sul (1.428)
- Diariamente são realizados contatos junto a empresários de todo o Brasil com o intuito de promover um encontro desses empresários com os venezuelanos especializados
CRISE DA VENEZUELA
Desde 2013, quando uma crise sócio-política sem precedentes se instalou na Venezuela, mais de 10% da população daquele país, algo próximo a 4 milhões de pessoas, migraram para outros países da América Latina, entre eles Brasil e Colômbia. O estado brasileiro de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, já recebeu mais de 120 mil refugiados, sendo que hoje 20% da população em Roraima já é constituída por venezuelanos. A população de rua na cidade de Boa Vista já passa de 3,5 mil pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).