Entretenimento e informação é o que proporciona a rádio DIBUNOKO YAKERA, criada pelos indígenas Warao no Abrigo Janokoida, sob a gestão da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), no município de Pacaraima, em Roraima.

Radio Warao

Bóris López, missionário da Fraternidade – Humanitária (FFHI) e um dos organizadores do projeto, explica que “DIBUNOKO” significa “falar”, “comunicar”, e “YAKERA” é uma palavra com muitos significados (que em linguística é chamada de “palavra-ônibus”), mas todos no sentido de algo bom, que seria algo como “legal” em português, ou “bacana”. No contexto de rádio, o nome pode ser traduzido como “Rádio Bacana”, ou “Rádio Legal”.

A atividade começou de forma espontânea, com alguns dos refugiados Warao utilizando o microfone e uma caixa de som que o abrigo dispõe para se comunicar.

Radio WaraoCom um programa diário transmitido para todo o abrigo desde maio, a rádio hoje conta com 12 locutores e três DJs; eles se dividem durante a semana na condução do programa, que dura cerca de uma hora e meia e é apresentado por duas pessoas.

A programação inclui entrevistas, músicas, notícias sobre os campeonatos esportivos, sobre saúde, e outros anúncios importantes do abrigo, como as atividades da semana ou do dia.

“É um meio imediato de comunicação e nos abrigos há os equipamentos mínimos para pôr em prática a atividade. Também responde à necessidade de atividades dentro do abrigo, é uma forma de ocupar a mente”, explica Bóris.

Outro missionário, Imer, ressalta ainda que “a rádio busca melhorar a comunicação e consequentemente a convivência em um abrigo onde vivem cerca de 500 pessoas”.

Além de entretenimento e uma forma de expressão, a rádio é uma oportunidade de descobrir os talentos e potencialidades das pessoas abrigadas, que são estimuladas a participar de alguma forma das temáticas ligadas à comunidade. Também contribui para o desenvolvimento de novas habilidades nos locutores da rádio, que se dispuseram para a atividade.

Atualmente, como alternativa à formação e qualificação dos locutores, o abrigo tem organizado sessões para transmissões de videoaulas, disponíveis de forma gratuita no Youtube, sobre locução e programas de rádio.

A ideia, explica Bóris, é que o projeto também possa crescer para além da localidade: “Queremos levar a rádio para a internet, para que qualquer um possa ouvir, de qualquer lugar. É a nossa aspiração.”

Segundo Imer, colocar a rádio ao vivo na internet também possibilitaria “que os migrantes indígenas Warao que estão em diferentes cidades e estados do Brasil possam se ‘conectar’, e assim manter viva a sua cultura e principalmente seu idioma original, já que os programas são transmitidos nas línguas warao e espanhol”.

Para melhorar a qualidade da iniciativa, a rádio também busca apoio para adquirir equipamentos, como mesa de som, computador e mais caixas de som.

Concurso para podcasts

Radio Warao

Os locutores Warao estão concorrendo com seis projetos no SoundUp, da plataforma Spotify que irá selecionar 20 jovens negros e indígenas no Brasil para oferecer treinamento, workshops e suporte na formação de um projeto de podcast, formato de programas de rádio gravados para internet.

Após um treinamento entre os meses de agosto e setembro, serão selecionados dez entre os 20 finalistas para aulas presenciais em São Paulo. Os vencedores também ganharão equipamento técnico e acesso à internet para dar continuidade ao projeto.

Importância da Comunicação

A comunicação popular e comunitária se consolida como importante ferramenta na garantia de direitos humanos, possibilitando o acesso à informação e à produção de notícia, dando voz às comunidades tradicionais, movimentos sociais, grupos vulneráveis e minorias.  Representa, em suma, espaço para participação democrática da população, que pode contar suas histórias e compartilhar informações úteis para os seus grupos.

Outro exemplo de iniciativa nesse sentido é o jornal comunitário “Deje Nome” criado no abrigo Pintolândia, em Boa Vista, pelos refugiados indígenas Warao e E’ñepa como forma de combater fake news relacionadas às etnias e transmitir informações importantes para os abrigados.