Bernd Ruf, considerado o pai da Pedagogia de Emergência e também autor do livro “Destroços e Traumas”, compartilhou conhecimentos e experiências durante Formação Avançada em Pedagogia de Emergência realizada em São Paulo. O curso foi coordenado pelo terapeuta social Reinaldo Nascimento e teve três dias de duração.

Oficina Pedagogia de Emergência

Anália Calmon, Bernd Ruf e Mariandja

“Para a formação dos missionários foi de extrema importância aprofundar esse tema. A Pedagogia de Emergência ajuda o missionário a compreender o que está por trás do trauma. Isso possibilita um trabalho mais próximo e profundo no contato com a dor presente em situações de refúgio, traumas de relacionamento e sequelas de catástrofes naturais e civis, como também outros movimentos coletivos que adoecem a alma”, diz Mariandja, missionária da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional que participou da capacitação.

Em cenários de grande tensão, seja em uma zona de conflito, diante de catástrofes ou situações de refúgio, a resposta humanitária precisa ser imediata. Em diferentes partes do mundo as técnicas da Pedagogia de Emergência são utilizadas para amenizar traumas, principalmente entre jovens e crianças.

O trabalho dos educadores nesses contextos é fundamental para evitar que experiências traumáticas causem bloqueios e transtornos permanentes. Além de prejudicar o desenvolvimento e aprendizado, uma criança pode manifestar doenças gravíssimas após um trauma não superado.

A Pedagogia de Emergência é fundamentada nos princípios da Pedagogia Waldorf, que leva em consideração o desenvolvimento pessoal da criança e cria condições para que ela encontre o seu próprio caminho na vida.

Uma criança traumatizada tem dificuldades para expressar seus sentimentos, pensamentos e de se comunicar. Forçar o contato pela comunicação verbal direta só aumentaria ainda mais o trauma. Por isso a Pedagogia de Emergência utiliza métodos criativos no processo de resgate do ser. Por meio da música, dança, modelagem, escultura e pintura, por exemplo, a criança finalmente tem a oportunidade de colocar para fora sua essência e revela sinais de como está interiormente.  A partir deste ponto o educador tem condições de definir a melhor maneira de conduzir a educação da criança e pode direcioná-la para acompanhamentos específicos quando necessário.

Oficina Pedagogia de Emergência

Bernd Ruf em ação no Curdistão – Iraque. Foto cedida pela Associação da Pedagogia de Emergência no Brasil.

No livro Destroços e Traumas, Bernd Ruf traz uma definição sobre a Pedagogia de Emergência apresentada pelo psiquiatra Peter Selg. Segundo ele a Pedagogia de Emergência não é uma terapia do trauma, mas sim uma prevenção pedagógica do trauma nos estágios iniciais da crise que procura atuar de maneira a impedir que certas coisas evoluam cultivando o posicionamento correto e adotando as atitudes certas”, destaca a pedagoga Anália Calmon (Acácia), colaboradora da FFHI.

Os missionários e educadores voluntários da Fraternidade realizam um amplo trabalho educacional nas afiliadas e também nas Missões Humanitárias. As técnicas da Pedagogia de Emergência são aplicadas durante oficinas, vivências e em diversas atividades educacionais desenvolvidas pelos colaboradores. Para que os trabalhos sejam ainda mais efetivos, a capacitação e a troca de conhecimentos entre os educadores é fundamental.

Oficina Pedagogia de EmergênciaA Pedagogia de Emergência tem sido uma das principais expressões pedagógicas utilizadas no contexto Humanitário da Missão Roraima, servindo como norte no intuito de que cada atividade realizada tenha como propósito último a cura e fortalecimento interior das crianças, adolescentes e inclusive suas famílias. Assim, propiciar um espaço onde as pessoas atendidas nos abrigos sintam-se com autonomia e capacidade suficiente para conduzir suas vidas por caminhos melhores”, afirma o Missionário da FFHI Anderson Pereira Santiago, coordenador do setor de educação da Missão Humanitária Roraima.

Foi com este impulso que entre os dias 23 e 25 de agosto, cinco voluntários da Fraternidade participaram do terceiro módulo do curso de Formação Avançada em Pedagogia de Emergência. O seminário aconteceu no auditório da Associação Comunitária Monte Azul, localizada na periferia da zona sul de São Paulo.

O professor Bernd Ruf é reconhecido como um dos mais importantes pedagogos Waldorf no mundo. Após uma larga experiência na educação e resgate de crianças traumatizadas, Bernd reuniu todo o conhecimento adquirido e criou oficialmente em 2006 a Pedagogia de Emergência.

Além de já ter realizado ações com crianças em zonas críticas da Faixa de Gaza, Sudão, Quênia e áreas de refúgio em várias regiões do mundo, Bernd Ruf atua como diretor executivo da Freude Der Erziehungskunt Rudolf Steiner na Alemanha. A organização sem fins lucrativos foi uma das responsáveis pela capacitação gratuita em parceria com a Associação da Pedagogia de Emergência no Brasil.

Além dos educadores da FFHI e de outras organizações, médicos, terapeutas, psicólogos e agentes sociais tiveram a oportunidade de aprofundar conhecimentos sobre a Pedagogia de Emergência durante o seminário.

Foi muito bacana ter contato com o Bernd Ruf, mas poder vivenciar as oficinas, conhecer as outras pessoas e saber um pouco do trabalho delas e poder falar um pouco do nosso trabalho foi muito positivo. A percepção é que estávamos reencontrando irmãos de caminhada. São pessoas que estão se juntando, entendendo a dor do mundo, vibrando essa cura para o planeta, principalmente para as crianças e adolescentes que vivem nele em processos educativos que vão muito além do conteúdo. Na verdade, o conteúdo é um fio condutor longínquo para o principal objetivo que é o empoderamento, o fortalecimento pessoal e a cura”, destaca o Missionário da FFHI Anderson Pereira Santiago.

Com o tema “TRAUMA E ESPIRITUALIDADE”, a programação foi conduzida pelo terapeuta social Reinaldo Nascimento, que também foi o responsável pela tradução simultânea das falas de Bernd Ruf do alemão para o português. Além das partilhas teóricas, o grupo também vivenciou os conceitos por meio de oficinas de modelagem em argila, pintura em aquarela, brincadeiras e euritmia.

“Tivemos a oportunidade de vivenciar algumas ferramentas utilizadas e perceber como elas mexem com o nosso interior. Saí da oficina com a respiração mais tranquila, calma e leve. Me alegrou ver a arte presente em cada detalhe e o quão é curativa. Foi muito especial”, diz Raquel de Souza, Missionaria da FFHI que atua como educadora no abrigo para refugiados venezuelanos em Pacaraima pela Missão Humanitária Roraima.

CONHECIMENTOS RECEBIDOS SERÃO COMPARTILHADOS

“Onde existe perigo cresce aquilo que também salva” – a frase dita por Bernd Ruf durante o seminário sintetiza a essência dos ensinamentos transmitidos, segundo a pedagoga Anália Calmon (Acácia).  Para ela, os impulsos e instruções  enriquecem o trabalho educacional que já é desenvolvido pela Fraternidade.

A arte aproxima a gente da gente mesmo como uma forma de recorrer à nossa essência como fonte de nutrição para momentos que podem ocasionar traumas, para momentos de dor. O Bernd faz uma proposta de como podemos atuar na situação de intervenção quando acontecem situações que levam as pessoas a traumas, principalmente as crianças. Saímos de lá inspirados e nossa ideia é não deixar esse impulso adormecer. Em breve vamos organizar um encontro com oficinas para compartilhar esses conhecimentos com os outros educadores da Fraternidade”, finaliza Anália Calmon (Acácia).