O coral Canarinhos da Amazônia, sediado em Pacaraima (RR) e integrado por crianças chegadas ao Brasil com o êxodo venezuelano, se apresentou pela primeira vez em Boa Vista, capital do Estado de Roraima. A estreia foi no auditório da Universidade Federal de Roraima, em 23 de outubro de 2018, na abertura do IV Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras – IV SISF.

Desde setembro deste ano, o coral é um dos projetos apoiados pela Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), como parte de sua Missão Roraima Humanitária e da Operação Acolhida, executada pelo governo brasileiro. A iniciativa musical, amparada pela Associação Cultural Canarinhos da Amazônia, conta agora com o apoio financeiro do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e do Exército Brasileiro, que provê boa parte dos alimentos das crianças venezuelanas.

Quinta geração

O coral participou com 46 componentes, todos venezuelanos imigrantes, que integram a quinta geração dos Canarinhos da Amazônia. A direção musical ficou a cargo de Miriam Blos, com regência de Rafael Gonzales e Esther Araújo.

Fato peculiar foi a intensidade com que o apresentador venezuelano Gumnar Crespo interagia com o grupo, a cada intervalo entre as apresentações; mesmo sem falar português, ou ousando um “portunhol” (mistura de português e espanhol) de vez em quando, conseguiu, com muito humor, uma interação divertida com o público.

Embaixadores da Paz

Miriam Blos, com seus alunos

O  início das apresentações foi solene, com a entoação dos Hinos Nacionais do Brasil e da Venezuela. Em seguida, com um repertório variado e muito bem ensaiado, seguiu-se com a canção “Canarinhos Embaixadores da Paz”, considerado o hino do coral e de autoria da própria Miriam Blos.

No total foram doze canções, desde clássicos, como o belíssimo “Benedictus” e “Hallelujah”, passando pela popular “Mulher Rendeira” e finalizando com canções venezuelanas. Em resumo, um repertório amplo, com músicas muito bem ensaiadas e a leveza das vozes infanto-juvenis bem trabalhadas.

História

O coral começou a dar seus primeiros passos em 1993, com crianças brasileiras, sob a inspiração de Miriam Nascimento Blos, uma maestrina amazonense, nascida em Manaus. Formada em Música, Pedagogia e Teologia, especialista em música e sons amazônicos, ela começou a congregar crianças roraimenses com a intenção de “formar, com dignidade, as sementes do amanhã”. Assim relatou Karisse, filha de Miriam Blos, durante a apresentação realizada na Universidade de Roraima.

O projeto foi evoluindo e se formou a Associação Cultural Canarinhos da Amazônia para dar respaldo institucional ao coral.

Tempos depois, o projeto se trasladou para Santa Elena, município venezuelano localizado frente a Pacaraima, na divisa entre a Venezuela e o Brasil. Miriam se mudou para lá e prosseguiu com o coral, trabalhando com filhos de brasileiros residentes nessa localidade. Em 2015 voltou para o Brasil e se instalou em Pacaraima, num local que passou a ser conhecido como a Casa da Música, e que hoje é uma referência para as famílias que migram da Venezuela. A escolinha recebe diariamente cerca de 60 crianças venezuelanas, que encontram na música um refúgio e um apoio emocional, em meio a tanta desolação.