Plantio de árvores nobres, nativas e frutíferas promove revitalização e recuperação de nascentes na Comunidade-Luz Nova Terra.

“A água é um elemento sagrado para nós, e essencial. E as nascentes também têm um simbolismo muito especial – a água que brota do chão e sacia a sede dos animais e a nossa.” – Frei Paulo Mateus (OGM).

O poder da unidade em prol do planeta


Com o objetivo de recuperar e proteger a biodiversidade e as nascentes na Área de Proteção Permanente Recanto dos Pássaros, na Comunidade-Luz Nova Terra, filiada à Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), um esforço conjunto do Setor Águas e do Setor Reino Vegetal reuniu, nos meses de dezembro e janeiro, residentes, membros do monastério, colaboradores e integrantes da Rede-Luz em grandes mutirões de reflorestamento. A iniciativa envolveu o cercamento de nascentes e o plantio de sementes e mudas de árvores frutíferas, além de culturas como mandioca, batata-doce e feijão.

“Foi muito lindo, bem organizado no sentido de que tivemos uma preparação prévia quanto ao preparo do solo e à busca das árvores, tanto as doadas quanto as que adquirimos durante as semanas anteriores”, afirmou frei Paulo Mateus.

A ação acrescentou ao ecossistema local 600 novas árvores, sementes de diversas espécies e alimentos que poderão ser colhidos ao longo do tempo, contribuindo para a preservação da biodiversidade e a proteção das nascentes.

“Esse mutirão fez parte de uma série de etapas: podas e limpeza do terreno, construção da cerca, uso do trator no preparo do solo, plantio de árvores, sementes e mudas, culturas e adubação verde, capinas e manejos, podas, construção de cercas e uso de trator, entre outros. Foi um processo que durou meses e começou com a visualização e projeção da ação até sua concretização. O plantio representou a etapa final.” – Enoc, membro da Comunidade-Luz Nova Terra.

A escolha das espécies


Aproximadamente 95% das espécies escolhidas eram nativas, visando reintroduzir árvores que já não estavam presentes e fortalecer a biodiversidade local. Foram plantadas espécies da Mata Atlântica, frutíferas, melíferas e outras com capacidade de contribuir para o equilíbrio do solo e o ciclo da água. As mudas foram obtidas por doações e aquisição direta e também a partir de sementes semeadas no viveiro da Comunidade-Luz.

Frei Paulo Mateus ressaltou que há outras áreas a serem reflorestadas, para que a biodiversidade original seja recuperada. “Com essa missão de plantio buscamos formar um ecossistema mais diversificado, permitindo que as árvores nativas se espalhem naturalmente, contribuindo para o equilíbrio ambiental e a riqueza da flora local.”

Cuidando da Terra e a Terra cuidando de nós

O projeto tem como base a revitalização e preservação em colaboração com a inteligência natural da própria natureza.

O reflorestamento seguiu os princípios da agricultura sintrópica, que imita a sucessão natural das florestas e promove a recuperação de áreas degradadas, interagindo com o ambiente por meio de manejos que auxiliam o estabelecimento das árvores com maior grau de sucesso. “Ao restabelecermos a ordem natural da floresta e introduzirmos diversas plantas nativas, atraímos mais vida e estimulamos sua reprodução. Essa pequena floresta que plantamos se tornará um núcleo de regeneração, pois os pássaros e animais levarão as sementes para outras áreas”, declarou Enoc.

O plantio por sementes na APP Recanto dos Pássaros

Além do plantio das árvores, foi realizada a semeadura de “muvucas”, método indígena que consiste em formar uma composição de sementes de diferentes espécies. Neste caso, foram semeadas diversas espécies de árvores em linha, acompanhando o trajeto das mudas, o que garante o estabelecimento das espécies no local.

Também foi feita a semeadura a lanço, entre as linhas das árvores, de outra muvuca com grãos para adubação verde, como feijão, milho, girassol, abóbora e leguminosas, cobrindo o solo rapidamente, favorecendo os processos biológicos e, por acréscimo, produzindo alimento para a comunidade.

Acompanhando o crescimento

Espera-se que, em poucos meses, haja maior fertilidade da terra, crescimento das nascentes e melhoria na produção de alimentos, além do fortalecimento da fauna e flora. O manejo será contínuo, acompanhando o desenvolvimento das árvores e dos ciclos naturais.

“Área de Integração Permanente” – Cuidado consciente com o planeta

A proposta incentiva uma nova forma de se relacionar com a natureza, mais prática, consciente e integrada.

“Existem espécies que atraem certas formas de vida animal, assim como há árvores que contribuem para o Reino Mineral, e vice-versa. Tudo está interligado”, afirmou Enoc.

A presença de árvores traz inúmeros benefícios, como controle da erosão, fertilidade do solo, atração de abelhas, reprodução da fauna e regulação do ciclo da água. Por isso, o cuidado com as APPs é também cuidado com toda a vida.

“Não é exatamente uma APP no sentido tradicional. Imaginamos muitas vezes uma área intocada, mas aqui é uma ‘área de integração permanente’, onde o ser humano atua em favor da natureza. A ideia é nos integrarmos aos seus processos, colaborando para seu desenvolvimento.” – Frei Paulo Mateus (OGM).

Projetando o futuro


A iniciativa nasceu há alguns anos, com o objetivo de preservar e garantir o abastecimento de água destinada aos plantios a partir dessa nascente. Há dois anos, foi implementado um sistema de captação de água de nascente, conhecido como “caxambu”, que agora está protegido pela cerca e pelo reflorestamento.

“Quando as árvores estiverem grandes e desenvolvidas, a interação será mais contemplativa. Até lá, muitos anos serão passados em colaboração com a natureza, colhendo alimentos, cuidando das mudas e realizando manejos e podas que vão permitindo mais entrada de luz e dando o espaço necessário para o crescimento das árvores”, explicou frei Paulo Mateus.

Novas ideias já estão sendo pensadas. “Queremos plantar juçaras, palmeira nativa da Mata Atlântica que é sempre associada às nascentes e à presença da água. A ideia é aguardar que o crescimento das árvores crie uma condição de meia-sombra e umidade para que as juçaras possam se estabelecer no local”, comentou Enoc.

Desafios e aprendizado


“Os desafios foram muitos, mas com esforço tudo valeu a pena. Ver o verde, as flores e os frutos, acompanhar o crescimento de cada muda que plantamos traz uma grande satisfação. E os desafios foram superados pela força grupal.” – Frei Paulo Mateus (OGM).

“Um aprendizado que levo é ter visto a Comunidade-Luz se mobilizar durante minha ausência. Foi muito bonito ver o grupo sustentando tudo, mostrando que ninguém é indispensável, mas todos são necessários. Com amor e perseverança, tudo vai fluindo”, acrescenta Enoc.

Semeadura de uma nova vida


“A relevância de plantar frutíferas e nativas é fundamental para a fauna, a flora e as abelhas. Muitas espécies se beneficiarão, inclusive nós mesmos.” – Frei Paulo Mateus (OGM).

“Confiamos em que será como uma nova semeadura de vida. Esta floresta recuperará a natureza original, com mais pássaros e mais água. Já está acontecendo.” – Enoc.

Reaprender a regenerar, restaurar, preservar

Aprender com os ciclos da Terra é o que se constrói em cada projeto na Comunidade-Luz Nova Terra. Cultivando não apenas a Vida, mas o Bem para todos e para o Todo, pois é “tempo de Plantar o Bem”.